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quarta-feira, 10 de outubro de 2007

MST Cerca de 1,5 mil trabalhadores rurais marcham pelo Estado até o final do mês para desapropriação da fazenda Coqueiros


“CONTRA A intolerância dos ricos, a intransigência dos pobres”, já adiantou certa vez o sociólogo Florestan Fernandes. Fazendo jus às palavras do intelectual, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) iniciou mais uma atividade de peso para chamar a atenção da sociedade para a urgência da reforma agrária. Desde o dia 11, 1,5 mil sem-terra marcham pelo Rio Grande do Sul em direção à Fazenda Coqueiros, no Norte do Estado.
O latifúndio, de mais de 9 mil hectares, representa ao mesmo tempo a resistência do agronegócio gaúcho e a concentração de terras, que empobrecem cada vez mais os camponeses. Três marchas saíram da região metropolitana, Sul e Central, seguindo para a cidade de Coqueiros do Sul. A estimativa do MST é de que as marchas se encontrem na cidade no final do mês, quando ocorre um ato público em frente à fazenda. O dirigente estadual do MST, Mauro Cibulski, afirma que a marcha pretende expor dois tipos antagônicos de desenvolvimento no campo. “Estamos fazendo três marchas porque a reforma agrária está esquecida no Rio Grande do Sul. Hoje, está em curso um grande plantio de eucalipto para produção de celulose para exportação. A projeção de três grandes empresas é plantar 1 milhão de hectares de eucalipto, o que daria para assentar 43 mil famílias. Por isso, estamos fazendo essa denúncia”, explica. As marchas estão sendo feitas a pé e, em alguns percursos, de ônibus. As famílias estão passando por diversas cidades do interior gaúcho, onde debatem a situação da reforma agrária e os prejuízos da expansão da monocultura do eucalipto, principalmente na região Sul do Estado. Assentados de Hulha Negra, um município da região, já reclamam que caturritas – aves roedoras – devastam suas lavouras em busca de comida, pois o pínus e o eucalipto terminaram com a cadeia alimentar.
A Fazenda Coqueiros tem mais de 9 mil hectares, ocupando 30% do território de Coqueiros do Sul, no Norte gaúcho. A área ocupada pela propriedade corresponde a 9 mil campos de futebol, mas gera apenas 2 empregos fixos e 20 temporários. Além disso, o que a Coqueiros gera em impostos para a cidade é o mesmo valor obtido com quatro aviários de pequenas propriedades. Como outros latifúndios da região, a Coqueiros produz milho, soja e celulose para exportação. A propriedade é acusada de estar envolvida em crimes ambientais. Daí o motivo de o MST reivivindicá-la para desapropriação por interesse social. No entanto, não é apenas o MST que critica a existência da latifúndio. Apoio de prefeitosNo ano passado, mais de 20 prefeitos da região entregaram um documento ao ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, reivindicando a desapropriação da área. O prefeito de Coqueiros, Acácio de Souza (PDT), já demonstrou diversas vezes seu apoio à transformação da área em assentamento. Ele relata que a população da cidade – que vem se reduzindo nos últimos anos e hoje mal passa de 2 mil habitantes – não encontra mais motivos para permanecer no campo, principalmente os mais jovens. O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) já vistoriou a fazenda e enviou o pedido de desapropriação por interesse social à Brasília. O processo aguarda apenas a assinatura do presidente Lula. “Nos cinco primeiros anos de governo Lula, apenas 800 famílias foram assentadas no RS. Muitas estão há mais de cinco anos esperando o lote. Queremos a desapropriação já”, exige Cibulski, da direção estadual do MST. Nos municípios próximos a Coqueiros, críticos do MST encontram a prova de que a reforma agrária gera emprego e renda no campo, além de desenvolver as regiões em que é implementada. Nas cidades de Sarandi e Pontão ficam os assentamentos que surgiram à partir da desapropriação da Fazenda Annoni, que deu início à formação do MST, mas teve seu primeiro assentamento criado apenas em 1992. A área improdutiva de 9,8 mil hectares foi desapropriada em 1975, mas permaneceu em litígio judicial até 1987, quando cerca de 2 mil sem-terra ocuparam a área para pressionar a distribuição de terra. A Annoni ocupava áreas de cinco municípios na região. Com a sua desapropriação, cerca de 500 famílias foram assentadas. Pontão, que era um distrito, passou a ser cidade. O comércio do local se desenvolveu, foram criadas escolas e postos de saúde, melhorou o abastecimento de água, energia elétrica e telefone. Os agricultores assentados na antiga Annoni produzem hoje para o seu autoconsumo e para vendas externas. Eles também geram emprego a trabalhadores urbanos nos frigoríficos instalados na cidade.

Raquel Casiraghide Porto Alegre (RS)
Fonte: Jornal Brasil de Fato, Ano 5, n. 238 http://www.brasildefato.com.br/